A Caça Submarina é uma Actividade Física Desportiva que nem toda a população tem acesso. Pois, a sua realização é feita em dois meios aquáticos diferentes, no Mar e no Rio, o que na globalidade da população limita a sua prática devido a dois factores, á impossibilidade resultante da localização geográfica de cada pessoa e de factores inerentes a psicofisiologia de cada indivíduo.
Um caçador submarino na sua prática é submetido a uma pressão hidrostática muito elevada. Não sendo esta perfeitamente controlada pelo mergulhador pode trazer lesões gravíssimas a nível auditivo, respiratório, cardiovascular ou mesmo a morte.
Em média os mergulhadores em 1 hora de prática efectuam cerca de 25 apneias (Mergulho em que existe uma cessação da respiração) com duração de 50s, isto, em praticantes amadores. Praticantes de competição existe uma inversão, ou seja, o número de mergulhos é cada vez menor conforme a preparação do atleta e maior é a duração de cada mergulho, podendo mesmo atingir tempos de 4 minutos em sustentação em constante movimento.
A prática de caça em apneia exige um aperfeiçoamento de varias técnicas, estas surgem conforme o tipo de peixe que se pretende capturar e o local. As técnicas existentes mais conhecidas são:
CAÇA AO BURACO
"É possível praticar este tipo de caça a qualquer profundidade, no entanto, quanto maior esta for, maiores cuidados teremos de ter, devido à superior exigência em termos de apneia, para a qual também contribui a necessidade de bastante movimento por parte do caçador, nesta técnica, ainda para mais, se quisermos efectuar de forma correcta a abordagem ao buraco, apesar de neste capitulo, como em tantos outros não existirem verdades absolutas, existem no entanto procedimentos que geralmente dão bons resultados.
É requerida uma grande capacidade de observação, uma vez que em fundos acidentados, poderão existir os abrigos mais inimagináveis, e por vezes são mesmo estes que o peixe elege para entocar.
O peixe poderá ser surpreendido num buraco, porque de uma maneira geral é assim que vive, caso do safio, e moreia por exemplo, ou então porque pretende descansar, esconder-se de algum perigo, ou para se alimentar, é o caso dos sargos, douradas, robalos, corvinas, etc.
Existem porém peixes que em regra não entocam, tal como o salmonete, ou o fazem de uma forma diferente, como o linguado, que atinge os seus objectivos por intermédio da areia dos fundos.
Com a experiência, e com o conhecimentos que vamos adquirindo ao longo do tempo, dos diferentes locais, e tendo em conta factores como a época, estado da maré, hora do dia, etc, iremos desenvolvendo uma boa noção do tipo de peixe que poderemos encontrar em determinados buracos.
Para além de uma boa capacidade de leitura do relevo dos fundos, torna-se necessário prestar atenção á movimentação dos peixes existentes no local, por exemplo, um cardume de pequenos peixes, que insiste em ficar numa determinada zona, poderá ser uma indicação da presença de bons exemplares, entocados nas proximidades.
A aproximação a um buraco, deverá ser feita com a maior descrição possível e após uma observação atenta do local, sem provocar ruído, e tendo em mente que aquilo que pretendemos é vir a criar um tipo de situação em que o peixe sinta a necessidade de permanecer entocado, assim, antes de procedermos á inspecção do interior do buraco, no caso de existir peixe que vogue no exterior do mesmo, deverá ser este o primeiro a ser capturado, o peixe entocado apercebendo-se disso, terá tendência a permanecer no seu esconderijo.
Finda esta primeira fase, ou dada a inexistência de peixe no exterior do buraco, chegou a altura de o inspeccionarmos, e caso tenhamos a certeza da existência de peixe no seu interior, ou tenhamos fortes motivos para suspeitar da sua presença, devemos proceder de forma a que, dependendo da morfologia do local, consigamos introduzir apenas a cabeça da arma, espreitando discretamente, e estando preparados para um tiro reflexivo, tendo o cuidado de disparar primeiro aos peixes que se encontrarem mais próximos da entrada.
Se não tivermos de todo ideia do que podemos encontrar no interior de um buraco, será boa ideia fazer uma silenciosa aproximação, espreitando discretamente pela entrada (por vezes o pino é a opção mais eficaz), e sem proceder á introdução da arma nessa primeira fase.
A lanterna só deverá ser utilizada quando for absolutamente necessária.
Caso notemos que o buraco possui por exemplo, duas entradas/saídas, podemos experimentar obstruir uma delas, ou colocar junto dela objectos coloridos, que sirvam como dissuasão á saída do peixe.
Neste tipo de caça, é aconselhável ter á mão um bicheiro e um saca-arpões.
Dependendo da dimensão dos buracos, poderemos utilizar uma "baby" nos mais pequenos, e para peixes não muito grandes, no entanto, já para buracos um pouco maiores, uma "júnior", poderá ser a opção mais acertada, permitindo-nos ainda efectuar tiros razoáveis em água livre. Para buracos amplos e profundos, como furnas por exemplo, poder-se-á, optar por uma "standard" ou uma "luxo"."
CAÇA Á ESPERA OU AGACHON "Este é provavelmente o tipo de caça que maior treino e experiência requererá do caçador para que forneça resultados.
Exige uma grande perfeição nos movimentos que desenvolvemos debaixo de água, os quais deverão ser o mais graciosos e silenciosos possíveis.
A coloração do material utilizado, deverá também ela contribuir para a nossa discrição.
Estes aspectos revestem-se de extrema importância, uma vez que neste tipo de caça, se por um lado se poderão efectuar capturas de peixes atraídos pela sua sua curiosidade, por outro lado, os mesmos poderão estar de passagem no local onde nos encontramos emboscados, sendo nesse caso, traídos pela distracção. Assim, silêncio e mimetismo serão as chaves do sucesso.
De qualquer das formas, o objectivo último desta técnica de caça, passará por, estando nós situados no fundo, tentando ao máximo integrar-nos com ele da forma mais perfeita possível, esperar e provocar com que o peixe surja a uma distância tal que permita o tiro.
Este objectivo será tanto mais alcançado, quanto maior for a experiência no que toca ao tipo de fundo dos locais, comportamento habitual das diferentes espécies de peixes, a influência provocada pelas épocas do ano, estado da maré, visibilidade existente, etc.
Poderão ser bons locais para o agachon, zonas nas quais o peixe normalmente se alimenta, esquinas, falhas nas rochas, pedras isoladas, enfim, todos os locais onde possamos jogar com o factor surpresa em nosso favor, tentando ainda contar com a ajuda da corrente, notando que o peixe por norma voga contra a mesma, em busca de alimento.
O lastro utilizado, dependendo da profundidade na qual estamos a caçar, tem tendência a ser um pouco superior ao normal, uma vez que é requerida uma grande imobilidade por parte do caçador (nunca esquecendo o factor segurança, e de que deveremos conseguir regressar á superfície sem grande esforço, e no momento certo), sendo normal que se recorra por vezes a pequenos pesos extra colocados nos tornozelos.
O tipo de arma normalmente utilizado, deverá garantir-nos a possibilidade de efectuar tiros a uma boa distância, e com precisão, sendo adequadas para o efeito, as armas de metro ou superiores, com elásticos de latex puro.
Um aspecto bastante importante, relaciona-se com o cuidado que deveremos ter durante a espera, em colocar a arma numa posição o menos agressiva possível, procurando por exemplo dissimulá-la junto ao corpo."(Judas, Oct 2006)
CAÇA NO AZUL
"Aqui está um tipo de caça carregado de esplendor e grandiosidade, características que lhe são conferidas pelos cenários onde se desenrola, e as capturas ás quais se destina. Efectuada em zonas profundas, muitas vezes em pleno alto mar, recifes, etc., onde de facto é possível encontrar os maiores peixes capturados por caçadores submarinos.
Muitos dos recordes conseguidos a este nível, referem-se a exemplares que em muitos casos atingem algumas centenas de quilos, como é o caso de um recorde mundial conseguido por um português, Paulo Gaspar, que em 19 de Agosto de 1997, no mar dos Açores levou a cabo uma fantástica captura de um atum de barbatana azul, do atlântico, que pesava nada mais nada menos do que 296,6 kg
Trata-se portanto de uma forma de caça, que visa peixes com um poder imenso, e velocíssimos como os marlim, e o caso da cavala-da-índia, ou wahoo, um autêntico torpedo vivo, cuja captura, que é recorde mundial se situa em mais de 56 kg, e que chega a atingir uns estonteantes 100 km hora.
Torna-se essencial, dados os contornos desta actividade, ser possuidor de uma excelente apneia, e grande robustez física e mental, uma vez que as profundidades atingidas ultrapassam por vezes os 30 metros, e os riscos, como o de ser atacado pelas próprias presas, são bem reais.
No que toca ao material, as armas utilizadas, poderão atingir os dois metros de comprimento, e possuindo grande potência, sendo no entanto, alvo frequente de modificações introduzidas pelos seus utilizadores, com vista a adquirirem ainda maior potência de disparo, assim, chegam a ser utilizadas sete bandas de elásticos numa só destas armas.
Ligado ao arpão está um cabo de material extensível, que na outra extremidade possui geralmente uma ou duas bóias, as quais após um tiro com sucesso, se destinam a cansar e a localizar o peixe. Por motivos óbvios, é extremamente útil a existência de um barqueiro de apoio.
As máscaras utilizadas, dadas as profundidades praticadas, são geralmente de baixo volume, para facilitar a sua compensação, e as barbatanas, longas, próprias para o mergulho em apneia.
Neste tipo de caça, há uma grande preocupação com a camuflagem, assim o fato utilizado tende a ser o mais adequado possível ao cenário envolvente, e todos os componentes metálicos do equipamento não deverão emitir qualquer tipo de brilho, uma vez que a visão dos peixes é extremamente sensível a este tipo de estímulo." (Judas, Oct 2006)
CAÇA NA ESPUMA
"Este tipo de caça, como o próprio nome indica é praticado em zonas de rebentação, procuradas pelo peixe, por geralmente serem bons locais para encontrar alimento.
Exige uma boa apneia, e robustez física, aliadas a uma grande dose de cautela, em zonas onde podemos ser facilmente atirados contra as rochas pela força das ondas, ainda para mais, onde pode suceder a perca de visibilidade, provocada pelo típico borbulhar da água, fruto da rebentação.
Assim, o ideal, não só para nossa segurança, como para a eficácia desta modalidade de caça, será vir de fora, junto ao fundo, de forma a poder surpreender os peixes que se alimentam mais á superfície, junto á espuma, mantendo-nos ao mesmo tempo abrigados da força das ondas, que se faz sentir nesse local.
Para virmos á superfície, deveremos recuar para fora novamente, efectuando assim sucessivas tentativas neste ritmo de vai-e-vem.
Tal como nós, também os predadores como o robalo, por exemplo, são atraídos pela actividade marinha verificada na espuma, deveremos portanto estar atentos à presença destes, tendo em conta que poderão estar emboscados em qualquer local, ou ser surpreendidos em plena espuma, sabendo que também eles vêm por fora para caçar.
A utilização dos fixadores de barbatanas, poderá ser útil nesta técnica.
O tipo de arma que se poderá utilizar, não deverá ser muito longo, devido à resistência que ofereceria à força da corrente." (Judas, Oct 2006)
CAÇA À ÍNDIO "A caça à índio, á semelhança da técnica do agachon, requer uma muito boa interpretação do fundo do mar, e do comportamento do peixe no momento em que se está a caçar.
Quanto mais acidentado for o fundo, mais interessante e produtivo será este tipo de caça, uma vez que consiste em progredir junto àquele, de forma silenciosa e utilizando os obstáculos com que nos cruzamos, para nossa dissimulação, permitindo que possamos surpreender o peixe num local onde previamente o observámos, ou no qual desconfiemos que este se encontra.
Muitas vezes as condições existentes permitem que nos desloquemos meramente ao sabor da corrente, como que planando, o que nos possibilita efectuar uma progressão bastante silenciosa, o que nos trará grandes vantagens, uma vez que esta técnica aposta essencialmente no factor surpresa." (Judas, Oct 2006)